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O cinema como um ato de sociabilidade, por Ana Paula Dessupoio Chaves

Durante o século XX, o cinema se tornou a forma mais popular de lazer nos centros urbanos. Em Juiz de Fora, não foi diferente, para muitas gerações, a ida ao cinema significou mais do que simplesmente assistir aos sucessos de bilheteria. (MARQUES; MUSSE, 2019). As pessoas que frequentavam os cinemas de rua se preparavam para experienciar esse momento, havia quase um ritual antes de ir assistir um filme – desde a escolha da película até o passeio pelas ruas da cidade. Afinal, o fato de ir ao cinema era um ato de sociabilidade.

Os principais cinemas de rua de Juiz de Fora se localizavam no centro da cidade e com isso parte dos espectadores se deslocavam dos bairros para poder assistir um filme. Então, era uma oportunidade de se relacionar também com o espaço, com as construções urbanas. No episódio “Cine Excelsior”, que faz parte da websérie “Cinemas de Rua de Juiz de Fora”, Franco Groia, que é professor e cineasta, contou que ir ao cinema não era somente ir ao cinema, era também visitar um bom café, tomar um sorvete ou ir a uma livraria, normalmente esses ambientes eram localizados próximos ao cinema. Groia ainda relembra sobre o Cine Excelsior, dizendo que “aquele andar inteiro ali, era uma casa de chá, de café chique. Então, as pessoas ao saírem do cinema, muitas delas, saíam para tomar um chá, conversar sobre o filme”. Ou seja, ir ao cinema era quase um evento, proporcionava diversas vivencias ao público.

Nesse sentido, as diversas experiências podem ser revisitadas por meio das memórias de quem viveu aquele período – seja através das lembranças advindas das narrativas orais ou de objetos guardados que ajudam na materialização da memória, como ingressos, fotos, jornais, entre outros. Certamente, por mais que as pessoas assistissem os mesmos filmes, as lembranças e as percepções desse momento serão diferentes. Assim como mencionado, o cinema foi o propulsor de inúmeras formas de sociabilidade, mas também de uma explosão de subjetividades (CRUZ; FERRAZ, 2018).

Com o passar do tempo, a concorrência dos programas transmitidos pela televisão, das locadoras de vídeo e dos cinemas em centros comerciais em diversas cidades, os prédios que abrigavam os cinemas de rua foram demolidos ou destinados a outras atividades. As pessoas não pararam de assistir aos filmes, mas mudaram a forma de assistir. Mesmo com todas as mudanças estruturais e tecnológicas, o cinema nunca perdeu sua aura. O que ficou dos cinemas de rua foram os rastros e vestígios das memórias dessas pessoas que conviveram com esse universo. Tais histórias e documentos podem ser acessados aqui no site “Cinemas de Rua de Juiz de Fora”.

O projeto, financiado pela Lei Murilo Mendes de Apoio à Cultura, tem o objetivo de rememorar as histórias sobre os cinemas que ocupavam o centro e vários bairros da cidade de Juiz de Fora, e permitir que, com os recursos do mundo virtual, todos possam viajar no tempo, e redescobrir os trajetos dos cinéfilos em busca dos lançamentos daqueles filmes tão sonhados e esperados. Uma oportunidade de iluminar um passado tão importante para a História do cinema e da cidade!

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Assista o episódio Cine Excelsior: Web Série Cinemas de Rua de Juiz de Fora.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=kmfNojzvZpM&t=197s&ab_channel=CinemasdeRuadeJuizdeForaCinemasdeRuadeJuizdeFora

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Referências:

CRUZ, Lúcia Santa; FERRAZ, Talitha (orgs.).  Nostalgias e mídia: no caleidoscópio do tempo. Rio de Janeiro: E-Papers, 2018.

MARQUES, Valéria Fabri; MUSSE, Christina Ferraz. Entre vestígios e ruínas: imaginários e memórias do Cine-Theatro ParaTodos. Anais do XII Encontro Nacional de História da Mídia. Natal: UFRN, 2019.

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Imagem: Cine Excelsior, 27 de fevereiro de 1958 (foto de autoria de Eurico Ferreira).

Fonte: Blog Maria do Resguardo