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Um festival de cinema, por Márcio Itaboray

A paixão pelo cinema está em mim fortemente instalada, desde a infância, quando,  pelas mãos do meu pai, eu assisti  a inúmeros filmes, na década de 60. “Marcelino pão e vinho”, “A  noviça rebelde”, as chanchadas com Oscarito e Grande Otelo, e as adoráveis comédias de Jerry Lewis eram a base das minhas emoções infantojuvenis.

Na década de 70, a rua Halfeld, que depois seria o Calçadão, (e como disse o meu saudoso parceiro Fernando Brant é “a maior Rua Halfeld do mundo”), era uma passarela de cinemas de rua. Em um espaço de menos de quinhentos metros, nesse nosso “corredor famoso”, efervesciam quatro  salas de cinema, e que, de certa forma, eram vocacionados para um determinado gênero. Eram eles: o Cine-Theatro Central, o Cinema Palace, o Cinema São Luiz e o Cine Festival, sendo que três deles, o Central, o Festival e o São Luiz, tinham endereços em praças. O Central e o Festival, na praça Dr. João Pessoa, e o São Luiz, na praça Dr. João Penido, a Praça da Estação.

As sessões eram às 14, 16, 18, 20 e 22 horas, que totalizavam, então, vinte sessões diárias, só na Rua Halfeld.

O Cine Festival era considerado pelos  cinéfilos como o “xodó” dos cinemas locais. Um pequeno e aconchegante  espaço, ao lado do Central, o Festival abrigava pouco mais de 70 espectadores, que se ajeitavam em suas poltronas por apenas um corredor central. A escada de acesso e a sala de espera eram “vermelhamente“ acarpetadas, e   fotografias dos principais atores mundiais  decoravam esses espaços, criando uma atmosfera, em um ambiente mais do que adequado ao que se veria daí a poucos minutos lá dentro.

Foi no Festival que nos emocionamos tanto naqueles anos. Filmes como “Nós que nos amávamos tanto”, “A última sessão de cinema”, “Sob o domínio do medo” e duas sessões apenas de um fantástico “Lacombe Lucien”, em 1974 – e eu assisti às duas. Risos.

Chegávamos a assistir a três sessões por dia, em um tempo bem mais romântico, que os tristes dias de hoje.

Aos sábados pela manhã, o Festival exibia festivais de cinema brasileiro, que nos contagiavam com filmes como “O bandido da Luz Vermelha’, “Rio 40 graus”, “Rio Zona Norte”, “Boca de Ouro” e tantos outros.

Pra sorte minha, o projetista daquele cinema era um velho e saudoso amigo meu, compositor e cavaquinista de primeira linha, o Sarrafo. E não foram poucas as vezes em que eu assisti aos filmes dentro da sala de projeção.

O Festival era um cinema. Um Festival de Cinema.

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Imagem principal:

Fachada do Cine-Theatro Central com a placa indicativa da entrada do Cine Festival.

Fonte: Blog Maurício Resgatando o Passado